O Quarteto Caleidoscópio é composto por Dalila Teixeira (piano), Francisco Ferreira (violino), Teresa Soares (violoncelo) e Tiago Bento (clarinete). Nascido num âmbito académico em 2019, apresentou-se pela primeira vez no Teatro Helena Sá e Costa em dois recitais com o Quatour pour la fin du Temps, de Olivier Messiaen. A sua característica mais irreverente passa pelo diálogo entre a música e a luz, havendo uma simbiose cenográfica e sinestésica que permite a criação de ambientes pouco convencionais.
Diálogo entre a Música e a Luz: Messiaen e a sinestesia
Num dos contextos mais tenebrosos da história da música, o "Quarteto para o fim do Tempo" é estreado em pleno campo de prisioneiros durante a segunda Guerra Mundial. Constitui, portanto, uma obra com peso emocional e histórico inegável, estando, ainda assim, repleta de momentos de esperança. Um dos elementos mais luminosos desta obra é o facto de haver pela primeira vez uma referência à sinestesia do compositor quando ele descreve os acordes do piano do segundo andamento como “cascatas azul-laranja”. Por isso, ainda que a estreia deste marco da música de câmara tenha acontecido em tempos obscuros, a sua escrita assume contornos luminosos, o que evidencia a força e tenacidade de Messiaen.
O Quarteto propõe-se a apresentar um recital em que a luz e a música dialogam, por forma a transformar a sala e envolver as pessoas na experiência que reconta a história do Quarteto, uma menos sombria e mais boreal, tal como as auroras que deram esperança ao compositor no campo de prisioneiros. Fazer com que o mundo de Messiaen seja projetado, na medida do possível, para o público, e se cumpram, assim, as duas faces do cristal: o peso do Abismo e a Esperança na Eternidade.
VÓRTICE (para o fim de um Tempo)
O público depara-se com um espaço pouco convencional e começa a sua caminhada, sem se aperceber da sua entrada numa realidade paralela. Num espaço exterior, o público é encaminhado até ao local do espetáculo, não pelos habituais assistentes de sala, mas por uma instalação de sons e luzes cujo movimento no espaço conduz o espectador para dentro da sala.
Ao olhar em redor, o público apercebe-se de que as cadeiras disponíveis são poucas para a quantidade de pessoas (apenas as suficientes para garantir o mínimo de conforto desejável). Dado que paredes, chão e teto funcionarão como telas de luz e som (sistema de sonorização multicanal) restam ao público duas opções: recostar-se em cima das pinturas de luz ou deambular pela sala.
Ao longo do espetáculo, sucedem-se três momentos de composição mais convencional: três visões sobre o fim do Tempo, uma de cada um dos compositores. Esses momentos são separados e intercalados por instalações sonoras e luminosas, mas a oposição entre os dois não é estrita: pelo contrário, o espetáculo desliza de forma fluida entre os dois registos.
Inevitavelmente envolvido numa ambiência dinâmica e abstrata, o público tenta compreender o que ouve, vê e sente, começando a mover-se pela necessidade de procurar a origem dos vários elementos: do som, da luz, do Tempo, do Fim... do centro do vórtice.
Depois de abandonar os grilhões temporais dos relógios e se perder na procura do centro do vórtice, as pessoas podem questionar-se sobre se este terá sido um concerto de música erudita, contemporânea, clássica… Podem questionar quantos andamentos tinha a “peça”, o que eram os momentos só com eletrónica (se transições ou apenas devaneios) e, mais importante que isso, podem questionar-se se o tempo terá acabado naquele momento em que se abandonaram a uma procura meditativa do próprio Tempo, durante a experiência estética. E é precisamente aí que nós queremos chegar.
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